LUNAR
Teu olho de lua
raiado de sombras.
Tua nádega branca
aureolada de lírios.
Teu beijo frio
pupila de neve.
Tua fala de harpa
mistério órfico.
Teu luzeiro verde
caracol de esmeralda.
Tua alma pesada
afugentada de estanho.
__________________________________
TRIÂNGULO
Vem. e me acompanha pela torva janela
como
um rastro sibilante e tépida correntude
carnosos
lábios que exsudam perfeita simetria
Como
as distâncias e as tatuagens ardentes de carne
que
peleiam aportam cais tremescurecidos de dentro
e
encontro ângulo ferido de si pela manhã cinzazul
Tristes
moendas que o chão varre horas afora
silencio
meus olhos na adaga do número e no gozo
das
chuvas bebem-se as joias da embriaguez
Tudo
tamanho de tato. Tateio a teia, a tirana
tigresa
que
sobe. As colinas da pele o caminho de sangue
nas
unhas as encostas da alma uma tessitura de anjos
Movem-se
as asas das águas. Elas ferem o ângulo
que ri
amor
marejado de temporais antes naufrágio
todo de mim
pelos
campônios amarelecidos em que barro e palha morrem o canto
Tive
tanto medo.
tanto.
_____________________________________
IBIZA
Três vezes açambarcante
ao ruído negro
do meu centro.
do peito
da cabeça
do sexo.
com um xale escondida
as feições antigas
as farpas embaraçadas.
três vezes revivestes
no silêncio todo
de meu sangue e rumor.
enterrada a carne no rio
a boca todos os buracos
sangrantes que fugi.
estupro molhante onda
música encarnada vasculhante
de mim
de ti das vagas frias
ferrugem a miséria da casa
as tábuas frouxas do sorriso
a tristeza do veneno na boca do pai.
viestes de novo a viver, fúlgida
água, rugas descidas das Dunas
e a mover meu tempo de menino e peixe.
________________________________________
ESTRIDOR
Vencido. Em volteios, vivo
e ao centro sempre
disposto
dos velames em ventos
vertido.
Pulsante. Eu-próprio, morto
nos flancos
disperso, ignaro
dos sexos em lençóis
amantíssimo.
Vertigem. Vasculhamos portos
encontramos moscas,
mansardas
moles mamas, mitigando
fósforos.
Obus. Homem, registro tardio
das palavras e do régio
tanque
fogo, guerra e arte
rubra do dorso.
Descanso. Fera alma arremessada
de dentro, este túnel que nunca
cavamos, este lábio que
nunca mel
E nas mãos mádidas maciez imersa,
vê o mal. Madrepérola.
Nácar.
toca-me o centro, a
friez da fronte.
Sentes. Em meio às coxas pendentes
frescos mexilhões, a idade do Tempo
em que jorra um céu puro
e deleitoso
A concha retida, o vôo da fênix o mar
as gaivotas
vulcanizadas, a flama do ar
no centro do Ser, flores,
onde serpeia o gozo.
_________________________________
SOLAR
Teu olho de sol
lançado
de luzes.
Teu
ventre dourado
alcantilado
de peixes.
Tua
língua quente
ardência
da lava.
Tua
música auriterra
revelação
do Zoroastro.
Teu
Templo de chamas
asas
marteladas do céu.
Tua
alma leve
alquimia
dos anjos.
(Anderson Dantas, do
livro inédito O Amor duplo e o Desespero das Águas
Imagem: do filme Bela
Donna de Fábio Barreto)