Canto II
(trechos)
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Eis-me
aqui perdido entre mares desertos
Só
como a pluma que cai de um pássaro na
noite
Eis-me
aqui numa torre de frio
Ao
abrigo da lembrança dos teus lábios marítimos
Da
lembrança de tuas complacências e de tua
cabeleira
Luminosa
e desatada como os rios de montanha
Irias
ser cega para que Deus te desse as mãos?
Pergunto-te
outra vez
O
arco de teus supercílios estendido para as armas
dos olhos
Na
ofensiva alada vencedora segura com
orgulhos de flor
Falam-te
por mim as pedras espancadas
Falam-te
por mim as ondas de pássaros sem céu
Fala-te
por mim a cor das paisagens sem vento
Fala-te
por mim o rebanho de ovelhas taciturnas
Adormecido
em tua memória
Fala-te
por mim o arroio descoberto
A
erva sobrevivente atada à aventura
A
aventura de luz e sangue de horizonte
Sem
mais abrigo que uma flor que se apaga
Se
há um pouco de vento
Eis-me
aqui tua estrela que passa
Com
tua respiração de fadigas distantes
Com
teus gestos e teu modo de andar
Com
o espaço magnetizado que te saúda
Que
nos separa com léguas de noite
No
entanto te advirto que estamos costurados
À
mesma estrela
Estamos
costurados pela mesma música estendida
De
um a outro
Pela
mesma sombra gigante agitada como árvore
Sejamos
este pedaço de céu
Este
trecho em que se passa a aventura misteriosa
A
aventura do planeta que estala em pétalas de
sonho
(Altazor, tradução de
Antonio Risério e Paulo César Souza, 1991)