A Poética do Silêncio
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UMA NOITE, assolado pela solidão e melancolia, comecei a assistir um filme, que era este, OPIUM, e coincidentemente, vinha ao meu encontro naquele momento, o mesmo sentimento do protagonista, que era a aridez para escrever. Algumas imagens do filme levaram-me a pressentir alguns poemas de Trakl, como se eu estivesse em Grodek, nas camas sujas improvisadas dos feridos de guerra, mutilados tanto na carne quanto psiquicamente.
Também lembrei da entrevista que Cioran concedeu a Sylvie Jaudeau, e que transcrevo aqui algumas passagens:
- Essa nostalgia precisamente é o fundamento da sua visão de mundo. Como o senhor a define?
- Esse sentimento está, em parte, ligado às minhas origens romenas. Lá, ele impregna toda a poesia popular. É um dilaceramento indefinível que se chama, em romeno, “dor”, próximo do “sehsucht” dos alemães, mas sobretudo da “saudade” dos portugueses.
- O senhor escreveu: "Existem três tipos de melancolia: russa, portuguesa e húngara".
- O povo mais melancólico que eu conheço é o húngaro; a música cigana serve de prova disso. Brahms, na juventude, fascinou-se por ela, de onde o charme insinuante de sua obra.
- Por que o senhor rompeu com a poesia?
- Por esgotamento interior, por enfraquecimento da minha capacidade de emoção. Chega um tempo em que se fica ressecado. O interesse pela poesia está ligado a essa frescura do espírito sem a qual rapidamente os artifícios são percebidos. O mesmo vale para a prosa. Na medida em que fico mais velho, escrever não me parece essencial. Livre de um ciclo de tormentos, descubro enfim a dor da capitulação. A rendição é a pior das superstições; sinto-me feliz de não ter sucumbido. Tenho imenso respeito pelos desistentes, os que tiveram coragem para apagar-se, sem deixar rastros.
- O senhor escreveu: "Existem três tipos de melancolia: russa, portuguesa e húngara".
- O povo mais melancólico que eu conheço é o húngaro; a música cigana serve de prova disso. Brahms, na juventude, fascinou-se por ela, de onde o charme insinuante de sua obra.
- Por que o senhor rompeu com a poesia?
- Por esgotamento interior, por enfraquecimento da minha capacidade de emoção. Chega um tempo em que se fica ressecado. O interesse pela poesia está ligado a essa frescura do espírito sem a qual rapidamente os artifícios são percebidos. O mesmo vale para a prosa. Na medida em que fico mais velho, escrever não me parece essencial. Livre de um ciclo de tormentos, descubro enfim a dor da capitulação. A rendição é a pior das superstições; sinto-me feliz de não ter sucumbido. Tenho imenso respeito pelos desistentes, os que tiveram coragem para apagar-se, sem deixar rastros.
- A sua verdade não reside no silêncio oposto hoje aos que ainda esperam livros do senhor?
- Talvez; mas se não escrevo mais, é por estar farto de caluniar o universo. Sou vítima de uma espécie de desgaste. A lucidez e a fadiga venceram-me – falo de uma fadiga filosófica tanto quanto biológica - , algo se rompeu em mim. Escreve-se por necessidade, e a lassitude elimina essa necessidade. Chega um tempo em que nada disso interessa mais. Em outras palavras, freqüentei pessoas em demasia que escreveram em excesso, obstinadas pela produção (...) Mas me parece que eu também escrevi demais. Um único livro teria bastado.
UMA NOITE em todas as noites, paira esse monstro da dúvida:
- Calar de vez ou escrever ainda?
Anderson Dantas - 2012
Eu moro numa Ilha.