OUTROS PALIMPSESTOS
Inventei umas asas para voar, e vôo.
Enxofre e rosa em meus lábios.
Chuva de flechas e violinos.
Tarde-caída arroxeada e enlutada na praia,
os meus olhos ainda claros mirando serenos.
Noite. Insuportável de me ver. Olhos profundos
e selváticos, pêlos eriçados e um rugido n´alma.
O que me fascina é este espírito livre de lobo.
E nos madrigais cintilo coberto de sangue das caçadas.
Chuva de orvalhos e uivos. Pavor.
Carne aberta e quente, vulvas úmidas e olorosas,
azulidades e sombras, amor às duas amantes morenas.
E um rastro de límpido rio guarda as cavernas
rubro-róseas das voracidades gementes das feras.
No meu coração mora um sol morto. E um cavalo
sem ginete que me espera nas verdes tranças.
Enredado de recifes também lobo do mar eu sou,
triste em vão, às vezes mergulhado de estrelas.
E quando saem as duas pombas negras a cravarem-se
no meu peito, nunca me acham, nunca me têm.
E nesta taça brindada de cismas, que os cílios do bosque
são-me cúmplices, estraçalho os seus nus pescoços.
Àquela que se ergue com suas grandes tetas escuras
e a que mostra o caminho de pérola da nuca ao ventre.
Chuva sem vontade. Sem dor nem orquestra. Alheia.
E o que me persegue são borboletas malhadas de fogos,
minha eterna solidão de mar e lobo. Rosa e enxofre nos lábios.
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SERMO
Do que recrudesce da grama
úmida. morta.
Um cão azul lambe
o grosso filete
que inunda a visão dos umbrais.
Eu nunca-nascido-de-mim
com as chamas púrpuras em túmulos
doridos, ancião.
Eu senti o corte da lâmina anterior
a fronte se ergueu da seiva
de sangue da árvore agonizante.
Dintéis de ferro adormecidos
de pálpebras. As mãos desnudas
escorrendo pelo bosque violento
da cabeleira. Uma palavra metralhada
sem amor, arrancada da fina boca.
A asa molhada o sol esvoaçante
recolheram-se dentro da pelepenumbra
espessas grades até onde o coração
percebe, e treme. Apoiado nos joelhos
polimeria trovões eu-menino-desterrado
alquimista. vivo.
Inventei umas asas para voar, e vôo.
Enxofre e rosa em meus lábios.
Chuva de flechas e violinos.
Tarde-caída arroxeada e enlutada na praia,
os meus olhos ainda claros mirando serenos.
Noite. Insuportável de me ver. Olhos profundos
e selváticos, pêlos eriçados e um rugido n´alma.
O que me fascina é este espírito livre de lobo.
E nos madrigais cintilo coberto de sangue das caçadas.
Chuva de orvalhos e uivos. Pavor.
Carne aberta e quente, vulvas úmidas e olorosas,
azulidades e sombras, amor às duas amantes morenas.
E um rastro de límpido rio guarda as cavernas
rubro-róseas das voracidades gementes das feras.
No meu coração mora um sol morto. E um cavalo
sem ginete que me espera nas verdes tranças.
Enredado de recifes também lobo do mar eu sou,
triste em vão, às vezes mergulhado de estrelas.
E quando saem as duas pombas negras a cravarem-se
no meu peito, nunca me acham, nunca me têm.
E nesta taça brindada de cismas, que os cílios do bosque
são-me cúmplices, estraçalho os seus nus pescoços.
Àquela que se ergue com suas grandes tetas escuras
e a que mostra o caminho de pérola da nuca ao ventre.
Chuva sem vontade. Sem dor nem orquestra. Alheia.
E o que me persegue são borboletas malhadas de fogos,
minha eterna solidão de mar e lobo. Rosa e enxofre nos lábios.
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SERMO
Do que recrudesce da grama
úmida. morta.
Um cão azul lambe
o grosso filete
que inunda a visão dos umbrais.
Eu nunca-nascido-de-mim
com as chamas púrpuras em túmulos
doridos, ancião.
Eu senti o corte da lâmina anterior
a fronte se ergueu da seiva
de sangue da árvore agonizante.
Dintéis de ferro adormecidos
de pálpebras. As mãos desnudas
escorrendo pelo bosque violento
da cabeleira. Uma palavra metralhada
sem amor, arrancada da fina boca.
A asa molhada o sol esvoaçante
recolheram-se dentro da pelepenumbra
espessas grades até onde o coração
percebe, e treme. Apoiado nos joelhos
polimeria trovões eu-menino-desterrado
alquimista. vivo.
(Anderson Dantas, in O Amor Duplo e o desespero das águas, inédito)