segunda-feira, 14 de setembro de 2009
PERSE e a Parede
A PAREDE
O laço da parede está em frente, para conjurar o círculo de
teu sonho.
Mas a imagem solta um grito.
A cabeça contra o descanso da poltrona gorda, examinas os
dentes com a língua: o gosto de gorduras e molhos infecciona-te as
gengivas.
E sonhas com as nuvens puras sobre tua ilha, quando a
aurora verde se elucida no seio das águas misteriosas.
... É o suor das seivas em exílio, o unto amargo das plantas
de síliquas, a acre insinuação das mangueiras carnudas e o ácido
deleite de certa substância negra nas vagens.
É o mel silvestre das formigas nas galerias da árvore morta.
É um sabor de fruto verde, que acidula a aurora que bebes; o
ar leitoso enriquecido com o sal dos alísios ...
Alegria! ó alegria desatada nas alturas do céu! Os panos
puros resplandecem, os adros invisíveis estão semeados de ervas e
as verdes delícias da terra penteiam-se ao século de um longo dia.
(Saint-John Perse, Imagens a Crusoé)
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