quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

CADERNO EXPRESSIONISTA: Georg Trakl


IM DUNKEL



A alma silencia o azul da primavera.
Entre a úmida ramagem do ocaso,
freme a fronte dos amantes.

A cruz verdeja! Em escuro colóquio
conheceram-se homem e mulher.
No muro esquálido
o solitário vaga com seus astros.

Nas sendas do bosque, ao clarão da lua,
afundou na mata
de esquecidas caças; olhar do azul
irrompe das rochas em ruínas.


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DER SCHLAF


Malditos venenos escuros,
sono branco!
Este insólito jardim
de árvores crepusculares
cheio de cobras, borboletas noturnas,
aranhas, morcegos.
Forasteiro! Tua sombra errante
na tarde rubra,
um negro corsário
em mar de aflição e sargaço.
Esvoaçam brancas aves na beira da noite,
sobre cidades cindidas
de aço.


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KLAGE


Sono e morte, as águias sombrias
rondam-me a fronte a noite inteira:
a áurea imagem do homem
engole-a a onda fria
da eternidade. Em recifes medonhos
rompe-se o corpo purpúreo.
E queixa-se a voz escura
sobre o mar.
Irmã de imensa melancolia,
olha: um barco assustado naufraga
sob estrelas,
na face calada da noite.



(Georg Trakl, tradução de Marco Lucchesi, 1990)

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