quarta-feira, 11 de outubro de 2006

BAUDELAIRE: O Patrono do Mal



A DESTRUIÇÃO

Sem cessar ao meu lado o Demônio se agita,
E nada ao meu redor como um ar impalpável;
Eu o levo aos meus pulmões, onde ele arde e crepita,
Inflando-os de um desejo eterno e condenável.

Às vezes, ao saber do amor que a Arte me inspira,
Assume a forma da mulher que eu vejo em sonhos,
E, qual Tartufo afeito às tramas da mentira,
Acostuma-me a boca aos seus filtros medonhos.

Ele assim me conduz, alquebrado e ofegante,
Já dos olhos de Deus afinal tão distante,
Às planícies do Tédio, infindas e desertas,

E lança-me ao olhar imerso em confusão
Trajes imundos e feridas entreabertas
- O aparato sangrento e atroz da Destruição!

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PROJÉTEIS E MEU CORAÇÃO A NU

O que é criado pelo espírito é mais vivo que a matéria.

O amor é o gosto de prostituir-se. Mesmo o prazer mais puro pode sempre conduzir a isso.

Que é a arte? Prostituição.

O amor pode provir de um sentimento generoso - o gosto de prostituir-se - mas logo é corrompido pelo gosto de propriedade.

O caráter profundo de algumas expressões vulgares: buracos que gerações sucessivas de formigas escavaram.

PROJÉTEIS, SUGESTÕES

O homem de letras também movimenta capitais e faz-nos desfrutar de uma certa ginástica do intelecto.

Amamos tanto mais as mulheres quanto mais estranhas elas nos parecem. Gostar de mulheres inteligentes e um prazer de pederasta. Por isso que a bestialidade exclui a pederastia.

O sentido do ridículo pode não excluir a caridade, mas isso é raro.

Da mulher. Ares.

Ares encantadores, que são fonte de beleza:

o ar saturado, o ar dominador

0 ar aborrecido, o ar voluntarioso,

o ar esgazeado, o ar perverso,

o ar indecente, o ar doentio,

o ar frio, o ar felino, misto de infantilidade,

o ar introvertido, de langor e de malícia.

MEU CORAÇÃO A NU

A mulher e o oposto do Dândi.

Deve pois nos causar repulsa.

A mulher tem fome e quer comer - sede, e quer beber.

No cio, quer ser comida.

Que glória!

A mulher é natural, isto é abominável.

Por isso mesmo ela é sempre vulgar, ou seja o contrário do Dândi.

Tornar-se um homem útil sempre me pareceu algo de muito detestável.

POLÍTICA

É por não ser ambicioso que não tenho convicções, como as entendem as pessoas do meu século.

Não há em mim qualquer base para uma convicção.

Há sempre uma certa covardia ou moleza nas pessoas de bem.

Só os aventureiros em convicções. De quê - De que têm de vencer. Por isso, vencem.

Por que eu venceria, se não tenho vontade de tentar?

Impérios esplendorosos podem assentar no crime, e nobres religiões em imposturas.

É preciso trabalhar, e se não for por gosto pelo menos por desespero; até porque, bem vistas as coisas, trabalhar é menos tedioso do que se divertir.

Imenso nojo dos cartazes.

O poeta, o padre e o soldado são a única coisa que ainda há de grandioso entre os homens: O homem que entoa o seu canto, o que abençoa, o que sacrifica e se sacrifica. O resto é feito para o chicote.

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