quinta-feira, 24 de julho de 2014

DAS MULHERES














                    noiva




despida inteira

em luto e gozo
de espadas

que se entrecruzam.

tardias
são as tardes

metades -
laranjas

numa cor de lamentos.

Não soubemos

em quais águas
revoltosas

foram-se

para as agonias
dos outonos.

Fingimos

que descem
essas escadarias

vestindo o branco
dos lírios

pássaros mortos

em dentes de abandono.







mãe




geme baixo
em sua

Torre de sombras

geme alto
em seu

Carrossel de ossos

carne
de sua carne

nutre
com leite & sangue

esta fome
com face
de espanto

esgar de chumbo
e silêncio.

ganindo

despedaçada de abismos
em seus espelhos

dulçorosos.
  






E, por fim




E,
por fim

já tão tarde

e escuro

já-sem-nome

ruge e chora

onde não há
mais
espaço

nem Tempo.

Juraram
os animais

encurralados

que foram
suaves

as mãos
na lisura

de uns céus

marchetados
pela glória
de um deus-louco.

Nada, diziam.

- Mais nada!

E, por fim

um outro cais esquecido.


(Anderson Dantas, Ilha, 16/05/2014
Foto: auto-retrato)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

DYLAN THOMAS E TUDO E TODOS




















TODOS TODOS E TODOS

I


Todos todos e todos os mundos áridos de levantam,
A idade do gelo, o oceano sólido,
Todos surgem do óleo e das crostas da lava.
O burgo da primavera, essa flor sob domínio,
Gira na Terra que faz girar as cidades de cinza
Em torno de uma roda de fogo.

E agora minha carne, minha companheira nua,
Teta do mar, o amanhã cheio de glândulas,
Verme no escalpo, cercado e sem cultivo,
Todos todos e todos, o amante do defunto,
Macilento como o pecado, a medula espumante.
Todos vindos da carne, os mundos áridos se levantam.


II


Não temas o mundo em movimento, ó mortal,
Não temas o sangue insípido e sintético,
Nem o coração no metal crivado de nervuras.
Não temas as pegadas, a moagem das sementes,
O gatilho e a foice, a lâmina nupcial,
Nem o sílex na martelada dos amantes.

Homem da minha carne, a mandíbula fendida,
Conhece agora os grilhões e o vício da carne,
E a gaiola do corvo de olhos falciformes.
Conhece, ó meu osso, a nodosa ascensão,
Não temas as hélices que fazem circular a voz
E a face para o amante rejeitado.


III


Todos todos e todos os mundos áridos se acasalam,
Cada espectro com seu espectro, o homem se contagia
Em contato com o ventre do seu povo amorfo.
Todas essas formas de placenta e do aleitamento,
Que são golpes da carne mecânica contra a minha,
Tornam quadrado nesses mundos o círculo mortal.

Faz florir, faz florir a fusão das pessoas,
Ó luz do zênite, o botão geminado,
E a flama na visão da carne.
Além do mar, o ímpeto do óleo,
A órbita e a tumba, o sangue de bronze,
Faz florir, faz florir tudo tudo e tudo.



(Dylan Thomas, Dezoito Poemas, tradução de Ivan Junqueira)




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