domingo, 16 de fevereiro de 2014
SEGUNDO DELIRIUM TREMENS
SEGUNDO DELIRIUM TREMENS
Fui espadachim, algo de podre e belo,
porque rompi-lhe o ovário com cutelo,
rompendo-me a mim com mãos claudicantes.
Fui espadachim de andaimes verdejantes,
cortando o feto de rainhas virgens,
de putas nobres e bufas vertigens.
Meu pai sagrou-me, minha mãe pariu-me:
quem me teve não mais me vê: viu-me
o dia da noite, o estrondo do raio,
onde soluço e em cântaros desmaio.
Consinto em ser o império da amargura,
a lepra santa de igual criatura
postada sobre mim, no meu assédio.
Sou eu mesmo o estrume canto, o meu remédio.
Mate-me logo, o delirium tremens
de todo álcool, de todos os sêmens.
(Nauro Machado, Os Órgãos Apocalípticos, 1976)
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