sábado, 26 de agosto de 2006
C. RONALD, Um Gigante entre nós
No final de Julho de 1993, C. Ronald por ocasião do lançamento de seu livro Cadeira de Édipo, tinha o comentário do escritor Péricles Prade: - É preciso termos reverência, estamos diante de uma Inteligência privilegiada, um Poeta como Carlos Ronald Schmidt, da estirpe de um Eliot, de um Cesar Vallejo, de um Pound ...
De lá para cá, C. Ronald continua sendo um Gigante entre a mediocridade poética que nos assombra muitas vezes. Pois em detrimento dos lucros fáceis os editores preferem publicar farsantes a publicar a verdadeira poesia.
Um Poeta tão fantástico como Ronald, mas afastado da grande mídia, parece ser absurdo, mas não é. A ele se junta, por exemplo, o maranhense Nauro Machado, que escreve há décadas e décadas, Poesia do mais puro malte.
Vilson Nascimento assim descreve C. Ronald em 1979 no Jornal de Santa Catarina:
(...) – Não há tema ou argumento em seus poemas. Tudo emerge de uma cósmica consciência. Se atentarmos, sem receio, sem censuras e preconceitos, veremos que através de seus poemas (colocados como verdadeiras sentenças ou aforismos poéticos), poderemos atingir toda a capacidade de vôo e alcance do espírito humano.
Sua maneira originalíssima de expressão, em estilo novo e penetrante, nos parece única em toda história de literatura. Igualmente único nos parece seu processo criativo, que presumimos desenvolvido com estranhos recursos intuitivos e/ou intelectivos. Ou até mesmo de um processo estranho a esses recursos. De um estágio mental ainda desconhecido e mais elevado.
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CANTO XIII
O que se prende no tempo
é do tempo a árvore crua um ídolo sem desejos
e os órfãos feitos de um osso apenas
Entre duas crianças amestradas entre duas
moléculas frondosas
de quem tirei os segredos
(do livro As origens, 1971)
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Onde estará aquele velho álbum? A cena
das fiandeiras sob as trombetas que o fechavam.
Os ancestrais esperam... Seria um mero encontro
não houvesse a consciências das coisas deixadas para trás.
Pompéia desenterrada. O valor menos notado
também assombra a idade. Afinal, para que encontrarmos
humanos petrificados embaixo de um tempo
que só poderia existir dentro daquilo mesmo?
O amor não foi maior ou menor para eles. Ontem
ninguém autorizou essa exibição nem a de uma família
embaixo da ponte. Mas essa parte de pedra
que nunca podemos entender e que teríamos
depois de séculos pode ainda enterrar
todos os nossos sonhos num instante.
(do livro A Cadeira de Édipo, 1993)
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51
o dote que se oferece no horror
dessa cidade é mais uma manobra difícil
das marés viradas em nossos pulsos
tal o esforço da visão da névoa
sonhos e vibrações técnicas estão aí
para tudo que seja atual
em frontes douradas pois ficou vazio
o que é pesado como o antigo absurdo
seu desejo excepcional ainda dentro
do medo com a mudança recente de vultos
interessados na superfície do arrependimento
mas chegou ao fim a fúria da indecência
e as unhas vistas entre os ossos podem matar
elas conhecem o que pode ser morto de novo
(do livro A Razão do Nada, 2001)
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98
há no pensador uma tragédia limitada
o diabo atira pelas frestas para acertar
na verdade na mãe opressora no pai incalculável
se alguma qualidade pode ser preferida
se os sentidos do filho excluírem a perda
na medida exata dos ancestrais
e reter a morte com outra igual haverá muita
precisão embora tal habilidade não restrinja
a estupidez no vazio e bastará uma brasa para
incendiar o mundo e sei que a miséria
aspirará o ar bem fundo pra estourar a razão
(do livro Os sempre, 2003).
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