domingo, 13 de outubro de 2013
AINDA CAI A CHUVA
AINDA CAI A CHUVA
(Bombardeio aéreo, 1940. Noite e alvorecer)
Ainda cai a chuva
Sombria como o mundo do homem, negra como a
[nossa perdição ...
Cega como os 194 pregos
Batidos na Cruz.
Ainda cai a chuva
Com som igual ao do coração transformado
na batida do martelo
Fora do Campo Santo e os ímpios passaram ouvidos
No Túmulo:
Ainda cai a chuva
No Campo de Sangue onde as pequenas esperanças
se multiplicam e o cérebro humano
Alimenta sua ambição de verme com a cara de Caim.
Ainda cai a chuva
Aos pés do Homem Agonizante pendurado na Cruz.
Cristo cada dia, cada noite, pregado lá, tem
[misericórdia de nós
De Dives e de Lázaro:
Debaixo de chuva a ferida e o ouro são um só.
Ainda cai a huva
Escorre o sangue do lado alanceado do Homem
[Desfalecido:
Ele carrega em Seu Coração todas as feridas - aquelas
[da luz extinta
A última faísca esmaecida
No próprio assassinado coração, as feridas da triste e
[inacessível escuridão.
Nas feridas do urso acossado, - o cego e gemente urso
açoitado pelos guardas na sua desamparada carne
As lágrimas da lebre perseguida.
Ainda cai a chuva
Por isto saltarei para Deus
Que me abate -
Olha, olha como o sangue de Cristo jorra no
[firmamento:
Flui do semblante profundo que pregamos na árvore
Até o sedento coração morrer aprisionando os fogos
[do mundo
Escura mancha com aflição
Como a coroa laurel de Cesar
Então a voz de alguém soa semelhante
À do coração do homem que foi outrora
Uma criança no convívio dos brutos
Ainda amo, ainda verto minha inocente luz
E meu sangue para ti.
(Edith Sitwell, tradução de C. Ronald)
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