O MAR EM
PESSOA
Eis aqui o mar erguido em um abrir e
fechar de olhos
[
de pastor.
Eis aqui o mar sem sonho com um
grande medo de
[
trevos em flor.
E em postura de terra submissa ao
parecer
vão com suas lãs de evidência, sua
nuvem e seu labor.
Sob a sombra de um olmo nunca há
tempo a perder.
Crédula, esquisita, a escuridão sai
ao meu encontro.
Meu semblante abriga a casa do pão
que trago dentro
Cortado a golpe sobre um pássaro
inseguro.
E assim me afasto sob a ação do piano
que me costura nas plantas
precursoras do mar.
Um cervo do outono começa a lamber a
lua da tua
[
mão.
E agora à minha volta o mundo começa
a se desnudar
Para morrer de árvores ao fundo dos
meus olhos.
Meus cabelos se enchem de peixes de
penumbra
e de esqueletos de navios forçados
Sem ir mais longe,
tu és fria como o machado que abate o
silêncio
na luta entre a paisagem e seu golpe
de vista.
Mas quando o céu exporta seus
célebres pianistas
e a chuva o odor da minha pessoa,
como teu formoso coração se atraiçoa.
(Juan Larrea, tradução de C. Ronald)