O TEMPO APRAZADO
Vem aí dias difíceis.
O tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Em breve terás de atar os sapatos
e recolher os cães nos casais da lezíria,
pois as vísceras dos peixes
arrefeceram ao vento.
Mortiça arde a luz dos tremoceiros.
O teu olhar abre caminho no nevoeiro:
o tempo até ver aprazado
assoma no horizonte.
Do outro lado enterra-se a amante,
a areia sobe-lhe pelo cabelo a esvoaçar,
corta-lhe a palavra,
impõe-lhe o silêncio,
acha-a mortal
e pronta para a despedida
depois de cada abraço.
Não olhes em volta.
Ata os sapatos.
Recolhe os cães
Lança os peixes ao mar.
Extingue os tremoceiros.
Vem aí dias difíceis.
segunda-feira, 7 de agosto de 2006
Ingeborg Bachmann (die gestundete zeit)
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