terça-feira, 3 de outubro de 2006
Orides Fontela: A Teia do Silêncio
PEDRA
A pedra é transparente:
o silêncio se vê
em sua densidade.
(Clara textura e verbo
definitivo e íntegro
a pedra silencia).
O verbo é transparente:
o silêncio o contém
em pura eternidade.
(Transposição, 1966-1967)
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O GATO
Na casa
inefavelmente
circulam olhos
de ouro
vibre ( em ouro) a
volúpia
o escuro tenso
vulto do deus sutil
indecifrado
na casa
o imperecível mito
se aconchega
quente (macio) ei-lo
em nossos braços:
visitante de um tempo sacro (ou de um não tempo).
(Helianto, 1973)
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NUDEZ
Ainda há maior nudez: barreira
ininterrupta do silêncio
guardando em si a evidência das formas.
Ainda há maior nudez: evidência
sem mais sinais
exata em sua luz interna.
Ainda há maior nudez: a luz
infinda simplicidade
sem apoio além de si mesma.
(Alba, 1983)
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ÁGUAS
amargas
cobrem o
barco
as águas
salobras
trazem
o dilúvio, o naufrágio, o necessário
batismo.
Através do
silêncio
cai a
água
filtra-se
através do ser
a inextinguível
água
do silêncio.
(Rosácea, 1986)
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