aqueles dias
Ao irmão.
aqueles dias
de luta
de luto
(de vinho e chá escuro)
eu poderia te dizer um único verso:
fumo de tabaco rói o ar.
antes eu,
e dentro batia
no peito a rugir; filhote
de leão manso
dizem a cabeça pende
e hoje, irmão,
na caçada leão de juba
(juba grisalha e rala)
um poema, uma navalha
em lugar de uma carta
um sonho mesmo às escuras
e o som das metralhas
onde somente a rugir
ventania sul implacável
intermináveis chuvas a molhar os caminhos
tigre cerúleo
e quando a me lembrar
de ti, irmão, vinha-me
ira, Rússia, camponeses, vermelho.
meu irmão,
nossos irmãos, irmão de sangue
irmãos russos se esvaindo
como sementes leves
Maiakóvski, Marina, Iessiênin
suicidados poetas na margem dos melífluos enxurros
tu me dissestes: - esta noite eu corri
com os animais pela madrugada
me salvastes a vida, irmão.
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aqueles dias de luta
de luto
de pó e sangue escuro
diziam leão e tigre
rugidos esquecidos, extintos.
Anos
de servidão e de miséria
comandavam
nossa bandeira vermelha.
aqueles dias, irmão
Neve dos tempos.
(Ilha, 18/09/09, 14h10 e chove muito)
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