terça-feira, 30 de agosto de 2011

A Poética de Fernando Mendes Vianna















NOTURNO

Depois que os rádios param
e a boca dos homens se cala,
a noite canta, marulho de mar,
a escura música.

Dobrados os braços podres,
os brutos de aço dormem,
monstros amorfos da urbe.

O tempo se liberta
                         do relógio
e inunda o mundo.

Um denso vinho de silêncio
se espraia, fundo, pelas praias
da noite
          sem margens.


(Fernando Mendes Vianna, Proclamação do Barro, 1957 - 1964)

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