quinta-feira, 15 de junho de 2006

Poemas do Livro CAVALOS do INFERNO



O QUARTO REVISITADO
(crime)

Puríssima neblina. Viagem de asas. Parque aberto da carne onde se divertem sulcos. Incensos e licores fortes. Os hospícios lentos da mente. Brancuras, cortinas esvoaçantes dos dentes. As águas que se afundam em rastros estranhos. As voragens, o porto, ancoradouro de vertigens. Nos dedos onde sinfonias despertam. O escaler perdido nos cabelos avermelhados. Um riso, quase rugido que se espraia. Azuis espirais em rubis quase mortos. A estrada dos lençóis em fogo, fulminam as pupilas em danças solertes. Ai, e este hálito horrível da alma funesta, estas esmolas que latejam no fêmur e aves que riscam o chão de faíscas. Estas serras ao longe, que o frio embosca como cálice de cristal, bêbedo de orvalhos e cristas arrojadas em cânhamos.
Pacto. Sangue. Esgotamento.



O NOME ESQUECIDO
(a exemplo do Diabo)

Esforços que a cegueira agonizou. E vocês sabiam. Quando este bólido correu nos assombros, e deixou suas lentas rajadas nos oráculos. Mas não questionaram suas próprias chamas rosadas, suas faces sem feições, nem seus caminhos onde os pombos farejam.
Esqueceram este toque que acalmou a tormenta, esta boca que pousou nos mercúrios, estas fosforescências que a sombra multiplicou de cravos negros, e que perfumou o sexo das manhãs. Sob inúmeras profecias e músculos extenuados estalaram as romãs, e apanharam as estrelas como quem cospe um trapeiro. E com ele devorou os sentidos que as asas desvelam. E súbito o suor das estátuas, o clangor dos metais e a alegria dos dementes. E vocês sabiam. A cor que inundou os vales e o eco que os dizimou sorrindo.

Anderson Dantas

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