sexta-feira, 14 de julho de 2006

Satolep: A Armada Poética de Vitor














Vitor Ramil. Irmão de Kleyton e Kledir. Talvez a dupla as pessoas tenham ouvido falar, mas de Vitor, um pouco mais raro. A não ser na capital gaúcha Porto Alegre e nas sombras tristes (figuras) de Satolep. Vá lá, nos pampas. Uruguay. Até mesmo em Genebra. Vitor não é conhecido e reconhecido no Brasil. Porque suas composições são poemas, poemas musicados. Ora, e quem quer poesia na Música? Quem quer música na Poesia? Rimbaud, Maiakóvski, Augusto de Campos, Borges, e tantos outros. Os amigos invisíveis mas verdadeiros, são a argila criadora do demiurgo. Ele avança junto com os peixes e os arpejos no frio da campanha. Vitor pertence a esta terra, repleta de seus frios. Notório buscador de ritmos e sonoridades raras, parceiro de músicos que não se vendem por milhões de cópias. Não há rima fácil, refrão medíocre e letras descartáveis no “Corcunda de Satolep”. Tudo parece doído, reerguido, remontado, destruído e renovado. Tudo parece uma longa e lamentosa milonga.
“Americana Pátria, morena / Quiero Tener / Guitarra y canto libre / En tu amanecer / No pampa meu pala a voar / Esteira de vento e luar / Vento e luar ...
Vitor é para poucos. ainda bem.



(Ibicuí da Armada)



Entre o meu e o teu ser
Tudo é permitido
Lambaris de cristal
E um bugio largado e rouco
De uma cordeona fantasma
Teu eco me responde
No timbre dos caudilhos!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito

Um silêncio muito antigo
Cai sobre os insetos
Chegam homens maragatos
Num pequeno bote
Que encosta sem pressa
Na outra margem
O ronco de queda d´água
Me chama de louco!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito

São três homens
Três facões
Com três lenços rubros
São três sombras
Três chapéus
Que entram pela mata
Três luas brilhando no aço
São três degoladores
Por sorte não me viram!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito

As cigarras recomeçam
Com seu canto triste
Eu mergulho como um bicho
E nadando em águas profundas
Revelo poemas aos peixes
São versos do soldado
Do poeta russo!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito

Limo e verbo
Lodo e rima
Louca a bala
Laica
Correnteza
Movimentos
Lanço a poesia molhada
Ao toque dos seres gelados
E quando volto à tona
Os homens me descobrem!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito

São três palas
Três anéis
Com três vozes duras
São três golpes
Três metais
E as três luas me partem ao meio
Brilhando no espelho
Das lâminas
Meu corpo vai-se embora
Na trilha das traíras
E minha cabeça livre
No gelo dos cometas!
Ibicuí da Armada
A mulher cavalga sobre teu leito!

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