quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Walt Whitman, fragmentos do mar e eu


XXII
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Tu mar! Também a ti me rendo – adivinho o teu sentido,
Da praia observo os teus dedos curvos e convidativos,
Creio que te recusas a regressar sem me seres em ti,
Devemos estar juntos algum tempo, dispo-me, leva-me depressa para longe
da terra,
Aconchega-me, suavemente, embala-me na tua sonolenta ondulação,
Bate-me com a tua amorosa água, posso retribuir-te.

Mar de grandes vagas espraiadas,
Mar de ampla e convulsiva respiração,
Mar do sal da vida e dos túmulos por cavar mas sempre abertos,
Mar que bramas e esculpes as tempestades, mar caprichoso e sublime
Fundo-me contigo, também sou de uma e de todas as fases.
Participante do fluxo e do refluxo sou, exalto o ódio e a reconciliação,
Glorifico os amantes e os que abraçados dormem.

Sou quem testemunha o amor ao próximo,
(Posso enumerar os objetos da casa e omitir a casa que os contém?)

Não sou apenas o poeta da bondade, reconheço que também sou
o poeta da maldade.

Que arrebatamento é este sobre a virtude e o vício?
O mal impele-me e impele-me o resgate do mal, permaneço indiferente,
O meu caminho não é o caminho de quem descobre nem de quem o recusa.
Rego as raízes de tudo o que cresce.



(Walt Whitman, Canto de Mim Mesmo)

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