segunda-feira, 2 de maio de 2011

Sapatos pelos céus de Porto Alegre














PARÁBOLA

A imagem daqueles salgueiros nágua é mais nítida
e pura que os próprios salgueiros. E tem também uma
tristeza toda sua, uma tristeza que não está nos primitivos
salgueiros.


INFERNO

Em suave andadura de sonho, sob uma infinita série de
arco-íris celestiais, anjos me conduziam num palanquim dourado,
entre um curioso povo de profetas e virgens, que formava alas
para me ver passar. Mas eu me debruçava inquieto a uma e outra
janela: faltava-me alguma coisa. Faltava ... Faltavam os meus desafetos.
Eu só queria ver a cara deles, ver a cara que eles fariam quando me
vissem passar, tirado por anjos, num palanquim de ouro!


EPÍLOGO

Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora
está suspenso. Nada agüenta mais nada. E sabe Deus o que é que
desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas!
Não sabe ... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca ...
Outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade.


(Sapato Florido, Mário Quintana - 1948)

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