domingo, 26 de novembro de 2006

Ambiente Poético VI



a vantagem
dos homens ocos

é que não são ruidosos

aquilo que rói
é a verborragia

encerrada na poeira

guardar o silêncio
para o
futuro

geração destruída

sem sol.

vomitar estrelas
ruminando

os tempos.


(Anderson Dantas, inédito, 26 Novembro 2006)

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Ambiente Poético V

(FÉTICHE)

Vestiu apenas os pés

com uma fina pele negra

e embrenhou-se no bosque noctívago

entrecortada por nus impulsos

e flamando suas mazelas & vergastas

malsãs voragens de SANGUE

(Anderson Dantas, do livro Cavalos do Inferno)

domingo, 12 de novembro de 2006

Ambiente Poético IV



BARCOS ANCORADOS

(no momento da visão de um quadro)

Ó flecha marinha que no murmúrio se assenta!
É qual um arco distendido, adormecido sobre uma voz
onírica, clamante, embebida de sutil lume se ornamenta!...
É como um festejo de cores que o esgrimista pule
com um marejo nos olhos, faróis intensos e silentes
que vem despejar espelhos calmos e límpidos
em nossas dores, adeja à sala estreita em brancor
de nossa fronte, esta sabedoria inflamada, contente,
este fluxo latejante purpúreo e soberano e ah!
Gloriosas e voluptuosas crinas ondeantes!...


(Anderson Dantas, do livro O Amor Duplo e o Desespero das Águas)

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Ambiente Poético III



ANJO

(extrato)


Sem seu corpo ou maciez
Fui lançado às escarpas, sem mudez
Sem música, no vermelho das lágrimas

Foi quando o atirador de facas
me convidou para no circo
rolar sobre as feridas

E eu não pus nenhuma máscara
eu ria sobre meu túmulo
que apodrecia dentro de mim

E quando Satã soprou
seu vômito negro, eu estava
de saída para encontrar Pandora

E ela me puxou pra si
e me beijou as axilas
e cheirou minha alma de sete facas

Cravado de espinhos eu subi -
Ao monte. e morri. e nunca acordado
despi a bainha de meu jorro

Lá de cima eu fui.
Lá embaixo no inferno que suporto
Lá discípulo de sempre. ANJO.


Anderson Dantas, escritos esparsos, 2006.
Location:Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.

sábado, 4 de novembro de 2006

Ambiente Poético II




deita água na minha fronte.
e bebe.
desta fonte aqui onde
a carne molhada são papoulas.
isso.
papoulas mergulhadas.

veja isto. um poema.
se parece conosco minha criança querida
THE SLEEPERS ELM

AH, NÃO. NÃO.
parece assim que a vida é uma porcaria.
Sylvia Plath então, que horror. que horror.
deita água em minha fronte.
e deita.
isso.

não entendes? LAUTRÉAMONT-LOHENGRIN-LAFORGUE?
lábio língua labor.
que abismo de lábios que alar de línguas?
não entendes? escute

esquece isto.
vem. matar a sede das madrugadas.
passar o toque da seda
nas reentrâncias insabidas
olhos transidos êxtases coloridos
trator das unhas viajadas de carne

acompanha meus passos, não os do homem.
os do menino. do caprídeo. do longe.
que ao final deste percorrido, mundéu.
vasta sentinela de cabeleiras douradas
que poço eu sou que fundura tanta
que fundo eu sou poçura quanta
meu amor, diga-me sopre-me uns versos ...

eu não sei. não sei.
destas tuas cousas assim de poço.
água imunda eu acho.
cacho de frutas podres. às vezes doce?
doçura triste posso cantar?
miar? acho que minhas dores a Ti
parecem miados?
oh, como me deixas? traste, arraste
que vida! que vida!

(aperta as mãozinhas delicadas
de encontro ao rosto e chora
demoradamente)

devia ser uma blasfêmia MESMO
o pranto da mulher
que altura que baixeza
estas lágrimas de lodo & ouro
estas pupilas de rubi & vidro

estás zangado comigo não estás?
juro, te farei o melhor,
o que quiseres, me arrastarei
serei o mosaico e a cor buscada
a rajadas de vento furioso & grito
juro, te darei o meu pior,
os meus negrumes pintalgados
de açoite e lama-monstra
mas não te afastas e não te alastras
como o mar poesiatua NUNCAMAIS
POESIATUA assim é que me MATAS
ficaremos os dois em silêncio, que tal?
cataremos conchinhas arrancaremos
asinhas e anteninhas de rouxinol e besouro
mas, não mais cousas de dentro, te peço
deita água em minha fronte.
me come.
Te deleita.
amanhã carne molhada.
isso. bebe.
papoulas de sangue.
menino ...
mundéu. olhos de seda. poço.


Anderson Dantas, escritos esparsos, 2006.
Location:Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.


quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Ambiente Poético I


tantas jóias tontas tonturas tonterias
já rubi sangue vivo vermelhidão sim, jaspe e olhar
negro e escuridão tundras travas trevas troando
e olhar-réptil-esverdeado esmeralda até na garganta
girafas de ouro peixes de prata barcos de bronze
uns lábios de cobre acobreadas visões de deus doido
e abaixo umas pétalas de turmalina e vidro encerado
todas elas já falei muito que lumes pérfidos que.
e muito. cheio do saco. dos minerais. das gentes.

mas topázio?
topázio não.
vês?!
que jóia de palavra
topázio.

e agora que alegria em minhas
vísceras
topázio.
e agora
topázio isto topázio aquilo
topázio
que sonoridade! que som libera
que tigre libertário!

com as garras arranhando
as orquídeas e a oquidão

topázio tigre tantálico titã touro torneado que altura teu nome teu som vejam ouçam T-O-P-Á-Z-I-O separem seus quartos suas coalhadas leitosas-amarelentas nada NADA MAIS será como antes umas feridentas pintinhas nos olhos oleosos NADA como TOPÁZIO e topázio para salvar o mundo sem chances sem rumos sem beiras sem estradas e a cegueira do verme por baixo beijando beijando nada nada no esgoto sem riqueza somente a santidade topázio topázio negro topázio branco topázio de janelas feridas de dentes circunvoantes nas orelhas do lince lince (outra grande santidade!) vem vai voa cai quebra topázio terrume torrada carne e pesado afã vai vem para os tentáculos de titânio tensão brutal carne de pedra e raridade. bela palavra.

Anderson Dantas, escritos esparsos, 2006.
Location:Florianópolis, Santa Catarina, Brasil.

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