quinta-feira, 31 de agosto de 2006

RIMBAUD, L´angelot Maudit



O ANJINHO MALDITO


Portas brancas, tetos soturnos
Como nos domingos noturnos

No fim da vila, sem um ai,
A rua é branca, a noite cai.

Nas casas, estranhos arranjos:
Nas janelas, cortinas de anjos.

Mas, para um marco, nesse instante
Acorre mau, frio, hesitante

Anjinho negro que se incuba
Após comer demais jujuba.

Faz seu cocô: desaparece:
Mas esse vil cocô parece,

À santa lua que vagueia,
Uma cloaca de sangue cheia.

(Arthur Rimbaud, Album Zutique)


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CABEÇA DE FAUNO


Na ramagem, escrínio verde e informe,
Na ramagem, manchada de ouro e flores
Esplendorosas onde o beijo dorme,
Vivo e partindo insólitos lavores,

Um fauno aflora os olhos e o chavelho
E morde a rubra flor com dentes brancos.
Lisa e sangrante como um vinho velho
No bosque a boca explode em risos francos.

E quando então fugiu - como um esquilo -
Seu riso ainda em cada folha oscila;
Vê-se o pisco assustar o então tranqüilo
Beijo-de-ouro do Bosque, que se afila.

(Arthur Rimbaud, Poésies)

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