segunda-feira, 3 de outubro de 2016

OS ENIGMAS de PABLO NERUDA













OS ENIGMAS




O que uma lagosta tece lá embaixo com seus pés dourados?
Respondo que o oceano sabe.
Por quem a medusa espera em sua veste transparente?
Está esperando pelo tempo, como tu.
Quem as algas apertam em teus braços?, perguntas mais firme que uma
hora e um mar certos?
Eu sei que perguntas sobre a presa branca do narval e eu respondo contando
como o unicórnio do mar, arpoado, morre.
Perguntas sobre as plumas do rei-pescador que vibram nas puras
primaveras dos mares do sul.
Quero te contar que o oceano sabe isto: que a vida, em seus estojos de
jóias, é infinita como a areia incontável, pura; e o tempo, entre uvas
cor de sangue tornou a pedra lisa encheu a água-viva de luz, desfez o
seu nó, soltou seus fios musicais de uma cornicópia feita de infninita
madrepérola.
Sou só uma rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos
habituados à longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho como
tu, investigando as estrelas sem fim e em minha rede, durante a noite,
acordo nu.
A única coisa capturada é um peixe dentro do vento.


Pablo Neruda

Total de visualizações de página