quarta-feira, 5 de agosto de 2009

BORGES: Pampa e a Vida Inteira




AO HORIZONTE DE UM SUBÚRBIO
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Pampa:
Avisto tua amplidão que afunda os subúrbios,
estou me dessangrando em teus poentes.

Pampa:
Posso ouvir-te nas tenazes violas sentenciosas,
e nos altos bem-te-vis e no ruído cansado
dos carros de bois que vêm do verão.

Pampa:
O espaço de um pátio colorado me basta
para te sentir meu.

Pampa:
Eu sei que te cortam
trilha e atalhos e o vento que te muda.
Pampa sofrido e macho que estás nos céus,
não sei se és a morte. Sei que estás em meu peito.





MINHA VIDA INTEIRA
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Aqui outra vez, os lábios memoráveis, único e semelhante
a vós.
Persisti outra vez na aproximação da ventura e na intimidade
do sofrimento.
Cruzei o mar.
Conheci muitas terras; vi uma mulher e dois ou três homens.
Amei uma menina altiva e branca, de uma hispânica quietude.
Vi um arrabalde infinito onde se cumpre uma insaciada
imortalidade de poentes.
Saboreei numerosas palavras.
Acredito profundamente que isso é tudo e que não verei nem
farei coisas novas.
Acredito que minhas jornadas e minhas noites se igualam em
pobreza e riqueza aos de Deus e aos de todos os
homens.




(Jorge Luis Borges, Lua Defronte, 1925)

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