domingo, 22 de outubro de 2006

ARTAUD, Carta ao Papa



Carta ao Papa

O confessionário não é você, oh Papa, somos nós; entenda-nos e que os católicos nos entendam.
Em nome da Pátria, em nome da Família, você promove a venda das almas, a livre trituração dos corpos.
Temos, entre nós e nossas almas, suficientes caminhos para percorrer, suficientes distâncias para que neles se interponham os teus sacerdotes vacilantes e esse amontoado de doutrinas afoitas das quais se nutrem todos os castrados do liberalismo mundial.
Teu Deus católico e cristão que, como todos os demais deuses, concebeu todo o mal:
1º. Você o enfiou no bolso.
2º. Nada temos a fazer com teus cânones, índex, pecado, confessionário, padralhada, nós pensamos em outra guerra, guerra contra você, Papa, cachorro.
Aqui o espírito se confessa para o espírito.
De ponta a ponta do teu carnaval romano, o que triunfa é o ódio sobre as verdades imediatas da alma, sobre estas chamas que chegam a consumir o espírito. Não existem Deus, Bíblia. Evangelho; não existem palavras que possam deter o espírito.
Nós não estamos no mundo, oh Papa confinado no mundo; nem a terra nem Deus falam de você.
O mundo é o abismo da alma. Papa caquético. Papa alheio à alma, deixe-nos nadar em nossos corpos, deixe nossas almas em nossas almas, não precisamos do teu facão de claridades.


(Antonin Artaud, tradução de Cláudio Willer)

5 comentários:

Haemocytometer Metzengerstein disse...

Muito bom esse texto, é a contraparte daquelas pinturas de Bacon dos papas :D

E Artaud era a cara do Nick Cave :)

Masé Lemos disse...

oi Anderson
gostei do seu blog
sacrossanta antologia!

Probus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Probus disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ebboo - Empório Mucuna disse...

Esse texto do Artoud foi publicado em que ano, refere-se que papa?

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